Repercussões da morte de Osama Bin Laden para as Relações Internacionais
* Gustavo Roque de Almeida
No domingo, primeiro de maio, o mundo foi surpreendido com a notícia divulgada pelo governo dos EUA de que o líder da Al Quaeda, Osama Bin Laden, havia sido morto por comandos especiais dos fuzileiros navais norteamericanos.
Mentor de vários ataques terroristas a embaixadas, estações de passageiros e, em 11/09/2001, às torres do World Trade Center, em Nova Iorque, o que provocou milhares de mortes, era o mais procurado terrorista dos últimos tempos e considerado o inimigo público número um dos EUA.
Não é meu objetivo neste momento analisar a trajetória do terrorista ou de sua organização, mas não se pode deixar de considerar, para esta fala, que a projeção do mesmo se deu não apenas pelo fato de integrar uma família milionária de empresários sauditas, com fortes laços de negócios com o governo americano, e também por ter participado, com apoio do citado país, do combate à invasão soviética ao Afeganistão, mas pela atitude que tomou de organizar uma cruzada terrorista contra a civilização ocidental.
A morte de Bin Laden, saudada euforicamente pela população norteamericana e, em menor escala por autoridades governamentais de alguns outros países, também contou com fortes protestos vindos de países do oriente e da África, conforme mostrou a mídia.
Mas nada disso significa a morte de sua organização, a Al Quaeda, que já vinha se ressentindo de significativa perda de prestígio em alguns países onde tinha representações e/ou adeptos. Prova disso foram os desentendimentos entre Bin Laden e Abu Mussab al-Zarqawi, que liderava o braço da Al-Qaeda no Iraque, quanto às formas de agir no país.
Explico melhor: Quando passou a atacar indiscriminadamente a população civil da Jordânia, da Palestina e do Paquistão sob a acusação de colaboracionismo com os EUA ou com os governos aliados a estes, Al Zarqawi e outros líderes de grupos da Al Quaeda, em seus territórios, entraram em rota de desobediência e até colisão com o líder maior.
Segundo levantamentos que vinham sendo realizados com a população de alguns desses países, a rejeição aos atos extremos de ataques de homens-bomba a cerimônias, quartéis, mercados e até em mesquitas passou a gerar uma rejeição, associada ao pavor a tais atos e, por extensão, à atividade da organização.
Por outro ângulo, a política de guerra ao terrorismo patrocinada pelos EUA não pode ser desassociada dos seus interesses econômicos haja visto que como maior fabricante de armas e detentor do maior aparato bélico de todo o planeta tem, nesse setor industrial -mas também no de serviços a ele ligados- significativa participação na composição do seu PIB. Assim, o comércio de material bélico e de tudo quanto é possível associar-se a uma campanha militar é fator importante nas decisões governamentais daquele país posto que emprega centenas de milhares de trabalhadores e recolhe elevadas somas em impostos.
Mas voltando à questão principal, a da repercussão da morte do terrorista. O fim do líder maior não implica, necessariamente, na extinção da causa. Repito que em cada país onde conseguiu se instalar a Al Quaeda tem suas lideranças próprias e, algumas delas, é bastante provável, lutam também por espaços de poder nas estruturas organizacionais da política institucional de suas nações.
A guerra santa, como os jihadistas denominam sua luta contra a cultura ocidental e/ou os não islâmicos, pode arrefecer, na medida que o ocidente compreender o ideal islâmico e a realidade que o cerca e, mais que tudo, contribuir para minimizar o estado de miséria material em que vivem milhões de muçulmanos na África e em outras regiões.
A continuidade da política ocidental de “dois pesos e duas medidas” em relação aos países de população de maioria islâmica, o que contribui decisivamente para manter ditaduras cruéis contra populações nativas, mas dóceis aos interesses petrolíferos do ocidente, só fará com que persista sempre a possibilidade de atos terroristas praticados majoritariamente contra o ocidente.
Enquanto houver o interesse de obtenção do petróleo para manter o ritmo frenético das indústrias, transportes e usinas geradoras de energia, considerando que a maior fonte produtora encontra-se no oriente, viveremos sempre sob o risco de novos atos de terrorismo.
Urge, pois, que o ocidente reveja sua política de acumulação no sentido não só de buscar o reequilíbrio da natureza como repensar em formas de contribuir para a melhoria das condições de vida de mais de um quarto da população planetária.
* Gustavo Almeida é Sociólogo, Doutor em Educação pela UFBA e professor do curso de Relações Internacionais da UNIJORGE